terça-feira, 24 de junho de 2014

Los Arenales 2013 - 2014 Parte 02

Continuando....

Além das montanhas sempre presentes em meu dia a dia o grande barato de viajar é conhecer gente nova, nessa viagem conheci e fiz muitos amigos, companheiros de montanha... Uma galera gente finíssima do Paraná e Santa Catarina, e um casal de amigos com quem escalei a próxima Agulha. A Carlos Daniel!

Com um dia de tentativa frustada para achar a via nessa agulha, voltei no dia seguinte com Marcella, Bruno (Cabeça) e Mônica, mal sabíamos o que aconteceria nas seguintes horas.... um dos piores perrengues que vivi na escalada. Iniciei a guiada na via Carlos Daniel, via que recebe o mesmo nome da agulha, cotada em 6A FR, primeira enfiada linda, com fendas largas... Para a P2 fui na frente de novo e rapidamente as peças foram se esgotando do rack, felizmente a parada estava alguns metros acima.
A próxima enfiada não era difícil, mas depois de 20 metros eu simplesmente não vi a parada a minha esquerda e toquei para direita em uma chaminé de rocha podre! Eu realmente achava que estava certo, pois tinha pegado um beta com um argentino e ele falava de uma chaminé.... Bom fui escalando nessa chaminé podre, onde as proteções eram escassas e as pedras soltas abundantes, Até que em um ponto a corda acabou.... pensei comigo mesmo... fu###, lacei um bico de pedra duvidoso e instalei um camalot 5. Que parada horrível, nem eu estava pendurado nela, falei pra Marcella subir mas ela não quis... Ainda bem... Cabeça insistia para eu abandonar um nut e rapelar, mas era tudo podre e solto, não tinha rapelar... Só me sobrou uma opção, desescalar.
Quando olhei para baixo fui perceber que minha ultima proteção era um camalot 3 15 metros abaixo, em uma fenda podre, abaixo dele um camalot 1 mais ou menos... Resumindo uma queda de pelo menos 30 metros... Tentei me acalmar e fui desescalando esse trecho podre, que agonia... depois de alguns minutos Cabeça me esperava na parada certa. Ufa, tudo certo! Agora era só dar segurança para as meninas e continuarmos a escalada.
Ao chegar na parada as meninas estavam assustadas, e realmente foi tenso! Optamos por descer dali mesmo eu e a Marcella, Cabeça e Mônica continuaram parede acima... Seguros no chão, esperamos pelo casal amigo e voltamos para o refúgio, era ano novo!
Com a champagne no rio para gelar a noite foi regada de muita pizza de fogareiro e risadas com os novos amigos.

Refúgio lotado de brasileiros

Trilha para a Agulha Carlos Daniel

Guiando a primeira enfiada da Carlos Daniel



Mônica na base

Pizza!

Fomos dormir cedo, eu estava exausto... No outro dia levantamos cedo pois o Yagua ia nos buscar, tivemos que desmontar o acampamento e montar as mochilas. Nos despedimos de todos e descemos para nossa maratona até Santiago. Após horas de espera na rodoviária de Mendoza, embarcamos para Santiago, depois de 8 horas chegaríamos na capital chilena. Era de manhã, fizemos check in no hotel ao lado da rodoviária e fomos descansar. Acordamos e fomos almoçar, um deliciosos banquete com sucos naturais, afinal depois de 10 dias acampados, nós merecíamos.... A volta para o Brasil foi uma novela a parte, mas essa história fica para outra vez. Agradecemos nosso amigo chinelo Ricardo Soto por nos receber me sua casa.





Para quem quiser informações sobre o lugar bem como dicas é só entrar em contato comigo.

Ah para o próximo texto pode ser que venha Everest, mas ainda não sei...

Abraços e boas escaladas.

Los Arelanes 2013 - 2014 Parte 01

Esse é um texto que estou devendo faz tempo, muito se passou desde então, mas aí vai!

Partimos para Santiago eu e minha companheira de vida e cordada, Marcella. Mas porque ir para o Chile se Arenales fica na Argentina? Para não pegar 2 vôos optamos por passar no Chile, comprar alguns equipamentos (bem mais barato que na Argentina) e seguir para Mendoza de ônibus. E assim fizemos, passamos 2 dias em Santiago e partimos para Mendoza.

Parede de escalada em Santiago, Mall Sport

Trecho Santiago x Mendoza

Trecho Santiago x Mendoza
A chegada em Mendoza foi como eu esperava, quente! É impossível imaginar que há alguns km´s de distância se localiza a maior montanha das Américas, o Aconcágua. Logo na chegada pegamos um outro ônibus para Tunuyan, depois de 1h de viagem chegaríamos a essa linda pequena cidade.

Tunuyan
Chegamos em Tunuyan e pra variar já estávamos na roubada, tínhamos que comprar comida para os próximos 10 dias e encontrar um transporte até o vale do Arenales. Fomos ao supermercado e logo estávamos de volta para se encontrar com Alejandro, nosso transporte até o vale. A ideia era contratar o renomado Yagua, famoso morador do Manzano Histórico que sempre recepcionou muito bem os escaladores do mundo todo.

Chegamos bem tarde no primeiro acampamento (Genda Armeria) quase escurecendo... de lá até o refúgio que ficaríamos são mais alguns minutos de carro e depois uma caminhada de 45 minutos. Com uma leve mochila de aproximadamente 30 kg e mais uma de ataque na frente fomos eu e Marcella caminhando no meio do vale com nossas head lamps. Confesso que foi desgastante, chegando no abrigo ainda armamos nossa barraca para uma breve noite de sono.

Amanhecemos em nosso primeiro dia nos Arenales, que lugar mágico, éramos uma comunidade brasileira, nenhum estrangeiro no vale, que clima bacana. Após as apresentações fomos preparar nosso café da manhã, logo veio o primeiro ''beta'', jargão utilizado no meio da escalada para exemplificar uma dica. Não deixe nada de comer na barraca ou em cima da mesa, pequenos camundongos fazem a festa no vale, comendo tudo que veem pela frente. Todo alimento era pendurado dentro do abrigo e ganchos ou fitas presos no teto.
Abrigo

Rio de degelo que corta o vale


Barraca quase montada, nossa casa por 10 dias

Vista da nossa barraca, Parede Amarilla
El Cajón de Los Arenales se encontra a 135 km a sudoeste da cidade de Mendoza, no departamento de Tunuyán, encravado em el Córdon Portillo, Cordilheira Frontal dos Andes. Los Arenales se tornou uma lenda entre escaladores de todo o mundo que buscam grandes agulhas e fendas perfeitas.

Arenales não é lugar para qualquer escalador, sem preconceitos com qualquer outro estilo de escalada, mas o ambiente é selvagem, não existe graminha verde, apenas espinhos, terra e pedras. Também não temos refúgio para dormir, banheiro, e não, não tem chuveiro. Mas como fazem com as necessidades fisiológicas? Simples, que nem gato, faz e enterra. E banho? De rio de degelo ou lenços umedecidos. Isso querendo ou não seleciona o escalador, para muitos dormir no ''chão'', defecar no buraquinho e ficar sem tomar banho é algo inaceitável, para nós é só parte da aventura.

Auto Retrato

Água dos Andes

Água barrenta depois de uma chuva vale acima
 São duas principais áreas de escalada, Refúgio Portinari com algumas paredes de até 200 metros, como a Mitria por exemplo, ideais para se aclimatar com a rocha e o estilo, e a área Cajón de los Arenales, que é onde se encontram as principais montanhas. E foi exatamente isso que fizemos, escalando algumas vezes na Mitria e depois passando para a área de cima.
Para quem quer conhecer esse paraíso é obrigatório o uso de proteções móveis, levei 2 jogos e meio de camalots, 1 jogo de stoppers, costuras, fitas, mosquetões, sapatilhas, freios e 2 duas cordas duplas. Algumas vias são equipadas com bolts, as mais acessíveis tem paradas equipadas para rapel. Leve sempre cordeletes ou fita para abandono.
Prevalece o estilo de escalada denominado pelos locais de: "Clássico em terreno de aventura". A maioria são vias de multi cordadas entre 200 e 600 metros de comprimento, normalmente por fendas a uma altitude média de 3.000 metros.
Apesar da rocha ser bem sólida, deve-se tomar cuidado com os inúmeros blocos soltos, principalmente nas vias mais fáceis e nos platos, atenção especial na hora de rapelar e puxar a corda.

Equipamento de Escalada para Arenales
Caminhada até a base da Mitria

Primeira escalada

Marcella em uma das paradas

Cordada de paranaenses na Mitria

Visual chegando ao cume

Consultando o guia


Cume da Mitria

Via Intercooler começa na direita da imagem e continua sobre 2 diedros

Nesses dias na Mitria descíamos todo dia até a base em 30 minutos andando bem. A primeira via escolhida foi a El Condor Passa, com graduação 5+ FR e toda chapeletada, e depois das outras essa foi simplesmente esquecida. A segunda foi a Intercooler 5+ FR, essa sim é linda começa na parte direita da foto acima. Conta com 2 lindos diedros, depois dessa me senti realmente em Arenales. A terceira foi a Filo del Cabalito 5+ FR, uma via completa, com agarras, fendas, chaminés e diedros, simplesmente sensacional.

Marcella com a Mitria ao fundo









P2 da Intercooler


Iniciando a escalada da Filo Del Cabalito

Uma das chaminés



Por do Sol no Refúgio